sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

História em Quadrinhos mostra as desventuras de um zumbi no carnaval

Por Diário de Pernambuco


Yuri não gosta de carnaval. No domingo antes da festa, pulou de um prédio. Morreu. Para seu azar, acordou no dia seguinte, entre marchinhas e blocos, e decidiu que, de fato, era mesmo melhor ir desta para uma melhor. Pena: Yuri é agora zumbi, e morrer ficou, digamos, impossível. Pulando de um prédio outra vez (não custa tentar, afinal), ele conhece Andrei, trambiqueiro, barbudo e gay. Será seu parceiro na árdua vida de um zumbi suicida em pleno carnaval do Rio.
Ao roteiro divertido do recém-lançado Yuri: Quarta-feira de Cinzas (Conrad) somam-se os traços precisos da HQ em preto e branco, na qual, como escreve Allan Sieber no prefácio, "não tem gordura e nem falta nada". Embora o traço denote experiência, trata-se do livro de estreia de Daniel Og, 32 anos.
Carioca criado em Jacarepaguá, Og incluiu na saga de Yuri personagens típicos do Rio, sem se render ao politicamente correto ou a modismos — apesar de os zumbis estarem, ultimamente, na moda.
"Quando comecei a escrever a história, ele não era nem zumbi, era um fantasma. Mas na época em que eu escrevia apareceu o Extermínio, de Danny Boyle, que revolucionou completamente os filmes de terror. Ele fez um filme de terror que respeita o tema, de zumbis, mas não tentou fazer um filme baseado nos clichês. Aí, eu pensei: Pô, coisa linda! E comecei a fazer o desenho de zumbi.
Og conta que se preocupou em não criar um quadrinho indie ("Essa linha é até legal, mas é uma cultura americana, de frio"). Ele até fez suas incursões pelo underground carioca, mas, diz rindo, "era um underground esquisito, porque era o underground de subúrbio".
"Comecei a perceber que eu não parecia o Robert Smith (da banda The Cure). Tentei ser gótico por um tempo (risos). Achava que estava abafando, mas tenho cara de brasileiro, e não de americano."
Yuri também está longe de ser o herói que, a princípio, o autor imaginou que seria. A ideia inicial, relembra, era de um Yuri que mostraria outro Rio, não o da superalegria tão divulgado mundo afora e que, para ele, "pinta a cidade como se a tristeza não existisse".
Não, não se trata de discurso emo. O tom lamentativo está distante do livro, recheado de humor negro — a mãe carola de Yuri vê sua volta ao mundo dos vivos como um milagre, e Andrei, o trambiqueiro, "agencia" sua carreira de santo milagreiro. "Essa cultura uniforme do oba oba tem consequências sérias. Temos que admitir que essa irresponsabilidade com o outro tem consequências. São os dois lados do caos, o do Yuri e o do Andrei. O lado bonito é quando o Andrei tenta ensinar o Yuri a querer viver, a ser feliz. E tem o lado feio, a malandragem do Andrei, que leva o dinheiro dos outros."
Assim como Yuri, Og é um tanto desencaixado da sociedade alegre. Lembra, rindo, que nunca se "deu bem" no carnaval ("Nunca peguei mulher. Pois é, dor de cotovelo") e completa: "Eu não tinha essa coisa de felicidade sempre. E sei que tem tristeza de verdade no Rio, com motivo."
No livro, a tristeza surge quando Yuri, que então soma à carreira de zumbi a de santo milagreiro, chega à favela numa procissão e, lá, os pedidos de milagres são tristes. Ainda assim, não há moralismo na HQ de Og. "Você vai sacanear alguém, mas será sacaneado. Esse é o mundo, as pessoas são diferentes."
Da Agência O Globo

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