terça-feira, 11 de outubro de 2011

Dossiê Homem-Aranha: UMA ORIGEM CHEIA DE TEIAS!


A maioria das pessoas sabe mais ou menos a história 
sobre a criação do Homem-Aranha, um dos 
personagens mais famosos da Marvel. Imaginado pelo 
lendário Editor e roteirista Stan Lee, o homem que 
co-criou a maioria dos personagens-ícones da editora 
teve uma ideia sobre um adolescente cheio de 
problemas que, de repente, adquire fantásticas 
habilidades ao ser picado por uma aranha 
radiativa e acaba se tornando um combatente do 
crime após aprender uma dura lição sobre 
grandes poderes e responsabilidades. 
Ele passou essa ideia para Jack Kirby, 
o seu então parceiro de tantos sucessos, como o Quarteto Fantástico 
e Hulk, mas o resultado não foi o esperado. Embora Kirby tenha 
criado o visual do uniforme do personagem, seu traço era heróico demais 
para o que Lee pretendia fazer com sua nova criação. Então, a segunda 
opção foi Steve Ditko, que havia desenhado inúmeras aventuras de ficção 
científica para a revista Amazing Adult Fantasy. O traço mais esguio e 
realista de Ditko serviu como uma luva para o projeto e a nova dupla foi 
formada para que viesse ao mundo um dos super-heróis mais queridos 
pelos leitores no mundo todo com a publicação de Amazing Fantasy # 15 
em Agosto de 1962.

Esse foi um resumo de como a ideia de Stan Lee ganhou vida, mas existem 
outras histórias meio nebulosas por trás dessa versão. De fato, a verdade 
em si é algo um tanto duvidoso... O que conhecemos por “verdade” nada 
mais é do que a versão aceita pela maioria ou pelo “vencedor”.

No entanto, segundo declarações de Joe Simon 
(o quadrinista e cocriador do Capitão América e 
de dezenas de outros personagens de quadrinhos da 
Era de Ouro) em seu fantástico livro The Comic Book 
Makers, a história é um “pouquinho” diferente e 
começou no final de 1953. 
Ele acreditava que o gênero 
de super-heróis poderia voltar a cair no gosto dos 
leitores após o declínio que veio com o 
término da Segunda Guerra. 
Alguns anos antes, Simon e Kirby, o seu 
parceiro de tantos trabalhos, fizeram bastante 
sucesso com a criação dos chamados quadrinhos de romance com 
a revista Young Romance,mas o mercado editorial parecia morno 
demais depois da avalanche de lançamentos no início da 
década de 1940. Simon havia recebido uma ligação de C.C. Beck 
(desenhista e cocriador do Capitão Marvel), que queria voltar a desenhar 
e ficou animado com a possibilidade de criar uma nova linha de 
personagens do gênero. 
Após colocar no papel diversas ideias que lhe vieram à cabeça, 
ele pegou a que lhe pareceu mais promissora e desenhou o logotipo: 
SPIDERMAN. 
Talvez inconscientemente influenciado pela criação de Beck, 
Simon imaginou um garoto órfão que, ao ser levado sob a custódia 
de um estranho casal de velhos, fica fascinado por uma aranha tecendo 
sua teia no sótão da casa. 
Então, o jovem se aproxima da teia e encontra um incomum anel 
brilhante preso a ela. Ao abrir o que parecia ser uma tampa na joia, 
um gênio aparece e lhe concede um desejo. O garoto não pensa duas vezes: 
ele quer ser um super-herói! Antes de entregar o primeiro roteiro para 
Beck, Simon decide trocar o nome “Spiderman” para “Silver Spider”.




Depois, de um tempo, o veterano desenhista devolveu as primeiras páginas
desenhadas só à lápis, um letrista providenciou o texto final e as páginas foram 
levadas até a Harvey Comics, mas seus editores não gostaram da ideia e o 
projeto ficou engavetado. Em 1954, por causa dos efeitos devastadores 
da censura alimentada pelo livro A Sedução do Inocente, do psiquiatra
Fredric Wertham, os quadrinhos sofreram um baque terrível com a 
implantação do Comics Code Authority e Simon e todos os quadrinistas da 
época passaram maus bocados.
No começo de 1959, enquanto produzia histórias para a revista de humor 
chamada Sick, publicada pela Archie Comics, Joe Simon foi procurado por 
John Goldwater, o Editor-Chefe, que encomendou a criação de 
novos super-heróis, 
pois ele acreditava que esse gênero de quadrinhos voltaria a ser sucesso 
outra vez. 
Só para você se situar historicamente, isso ocorreu no início da Era de Prata, 
marcada pelo ressurgimento dos super-heróis com o novo Flash (Barry Allen) 
na revista Showcase # 4 (da DC Comics) em Outubro de 1956. Simon apresentou 
a ideia do Silver Spider e uma outra sobre uma espécie de revival do Shield 
(um clássico personagem da Era de Ouro da editora) a Goldwater, que aprovou 
as duas. Era a hora de arregaçar as mangas e produzir os novos materiais!
Simon entregou as velhas páginas desenhadas por C.C. Beck para seu parceiro 
Jack Kirby e pediu que ele as redesenhasse no seu próprio estilo, mantendo 
tudo igual, exceto o personagem principal, que não seria mais um herói 
baseado numa aranha mas numa mosca. A nova criação seria “The Fly”. 
Kirby reclamou um pouco por causa das mudanças, mas providenciou o 
novo visual do personagem, alterando inclusive a pistola que disparava teia por 
uma pistola que lançava dardos paralisantes. Um pequeno detalhe: na pasta 
onde foram enviadas as páginas originais do Silver Spider também estava o 
antigo logotipo “Spiderman”.
Veja abaixo exemplo de uma página desenhada por C.C. Beck e a versão 
atualizada feita por Jack Kirby:

A primeira aparição de The Fly aconteceu em
The Double Life of Private Strong, em junho de 1959, 
mas sua revista própria Adventures of The Flysó seria 
lançada em agosto daquele ano. Infelizmente, por causa 
de uma série de intervenções editoriais e de uma melhor 
estratégia de vendas, o super-herói não emplacou 
e Simon, desanimado com o “fracasso”, abandonou o 
personagem após quatro edições. A série continuou, mas 
tornou-se apenas mais uma publicação medíocre no meio 
de tantas outras. De zumbido em zumbido, The Fly 
encerrou sua carreira em 1967, sem que ninguém 
sentisse sua falta.
Mas onde fica o Homem-Aranha nessa história toda?!
Bem... É agora que as coisas começam a ficar 
um pouco complicadas... No final dos anos 1950, Jack Kirby 
estava trabalhando para a Marvel, que era comandada por 
Martin Goodman. Naquela época, a Marvel publicava 
apenas histórias de monstros, algumas aventuras e 
faroeste, e as coisas não iam nada bem... Em 1961, 
numa partida de golfe entre Goodman e Jack Liebowitz 
(da DC Comics), este último deixou escapar a informação 
de que um de seus títulos recém-lançados, Justice 
League of America, era um enorme sucesso de vendas. 
Empolgado, Goodman ordenou a Stan Lee (primo da 
sua esposa, além de Editor 
e principal roteirista) que criasse uma equipe de super-heróis para competir 
com a Liga da Justiça, da DC, pois parecia que supergrupos eram a bola 
da vez. Lee conversou com Kirby e surgiu o Quarteto Fantástico em novembro 
de 1961.O sucesso foi enorme e a Marvel viu que super-heróis eram um 
bom negócio novamente. Então, a ordem de Goodman foi para que criassem 
mais super-heróis. Ali começava a Era Marvel!
Em Maio de 1962 surgia o Hulk, que agradou bastante 
os leitores. Mas Stan Lee queria algo diferente, algo novo. 
Foi então que Jack Kirby se lembrou do antigo e quase 
esquecido logotipo “Spiderman” feito por Joe Simon 
em 1953. Ele contou rapidamente sobre a história 
do herói adolescente e dos seus poderes baseados 
numa aranha, mas comentou que Simon acabou 
abandonando a ideia e partido para outros projetos. 
Lee adorou a ideia! O nome do seu novo herói 
“Spider-Man” não agradou Martin Goodman, mas 
este deixou que fizessem um teste com o personagem no último número 
de uma revista. 
Se ele fizesse sucesso, poderiam trazê-lo de volta num título próprio. 
Stan Lee pediu a Kirby que fizesse uma nova história baseada naquela 
que ele havia desenhado originalmente, fazendo algumas observações 
e alterações. No entanto, quando viu a nova versão, Lee não gostou do 
resultado final e passou o material para Steve Ditko, 
que ignorou o que Kirby 
havia feito e trocou, inclusive, a pistola de teias 
pelo lançador de teias que 
conhecemos hoje. Era exatamente o que 
Stan Lee queria. Ironicamente, 
ele não gostou da capa feita pelo novo 
desenhista e decidiu usar a versão 
desenhada por Kirby, mas com a arte-final 
de Ditko para não destoar da 
arte interna da história.
Abaixo, a capa original de Steve Ditko, rejeitada por Stan Lee, e 
a versão aprovada desenhada por Jack Kirby.


O Homem-Aranha tornou-se um dos personagens mais rentáveis da 
Marvel e Stan Lee declarou em incontáveis entrevistas que ele era 
uma das suas criações pelas quais sentia mais orgulho. Anos depois, 
quando Jack Kirby deixou a Marvel e deu início à uma amarga briga 
por direitos autorais sobre os personagens que ele criou em parceria
com Stan Lee, ele chegou a dizer que era o criador do Homem-Aranha 
e do seu uniforme. Steve Ditko, sabiamente, preferiu não comentar a 
respeito e se afastou de tudo isso. 
Joe Simon revelou esses fatos recentemente, mas não demonstrou 
mágoa e nem ressentimentos por ninguém envolvido nessa história 
toda.
O que posso dizer? Eu sou um grande fã de 
Jack Kirby e, da mesma forma, admiro o trabalho 
de Stan Lee como escritor e criador. Considero 
a fase do Homem-Aranha desenhada por Steve 
Ditko uma das melhores coisas já feitas nos 
quadrinhos. Já se passaram tantos anos desde
que tudo isso aconteceu que, talvez, jamais 
saibamos qual é a “verdade verdadeira”. 
Ainda assim, não consigo deixar de pensar 
com certa tristeza que os personagens que 
marcaram tanto as nossas infâncias também foram resultado de 
atitudes nem um pouco louváveis e que não refletem em nada o 
que suas criações inspiraram em seus leitores.
Às vezes, seria melhor que apenas lêssemos quadrinhos 
como quando éramos crianças e só queríamos nos divertir. 
Mas, agora que somos adultos, isso não é mais possível. 
Infelizmente.
Leandro Luigi Del Manto

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