quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Beto Potyguara entrevista Flavio Luiz para o Farrazine 24

FARRAZINE - Viver profissionalmente, da arte no Brasil, é um privilégio de poucos, apesar de existir uma demanda de mercado e uma legião de artistas talentosos em nossas fileiras pranchetais. Ao que você atribuiria esse quadro tão contraditório? O clássico provérbio do “santo de casa...”, em nosso país assumiu um caráter literal – ortoxo-dogmático–de-extrema-direita-maxi-ultra-conservadora-inquestionável?
FLAVIO LUIZ - Só agora as HQs e seus profissionais estão tendo o devido valor. Houve períodos anteriores (a época do Chiclete Com Banana) prejudicados pela situação econômica, mas acho que agora estamos na melhor época para se viver de HQ no Brasil. O problema persiste nos vícios por parte de quem contrata, querendo sempre o melhor por quanto menos possa pagar e boa parte do publico leitor, que apesar de gostar de HQ, espera sempre uma revista barata demais, ao mesmo tempo em que paga o que cobrarem por um ingresso pra show ou CD, festa, festa, festa... Mas isso está mudando e para melhor, graças a Deus.
FZ - Jayne Mastodonte foi a sua primeira personagem, mas foi com o “Aú” que seu trabalho ganhou uma maior projeção nacional. De onde vieram as inspirações (ou transpirações) para a criação desses seus personagens e qual o diferencial que você creditaria ao “Aú”, para ele ter conseguido uma aceitação bem maior que os seus antecessores?
FL - Jayne foi uma brincadeira com as personagens belicistas, lindas, mas infelizes das HQs americanas no começo dos anos 90 e apesar do sucesso agradou apenas a um grupo restrito de aficionados. É puro MAD!!!! O Aú preencheu uma lacuna num nicho de personagens 100 % brasileiros. Ele é otimista, positivo, carismático, destemido e está tendo uma aceitação maior do que eu esperava na vida! Estou fazendo o número 2, mas apesar de ter três anos que lancei, a procura pelo numero 1 ainda é grande!!!
FP - Tanto o “Aú” quanto “O Cabra” possui o perfil editorial das principais publicações estrangeiras, com um acabamento gráfico mais requintado e direcionado para um público consumidor específico. Com a diminuição do público formador de leitores de quadrinhos, oriundos das “bancas de revistas” e o afunilamento do mercado, concentrando-se principalmente nos lançamentos para as livraria, você não teme que, em longo prazo, esse público consumidor cada vez mais envelhecido também não repita o ciclo que as “cigarreiras” e “tabacarias” estão experimentando no momento de hoje?
FL - Temos que nos adequar aos novos tempos. Minha experiência com banca de revista foi frustrante, já que mesmo custando 2 reais vendi 5 exemplares da Jayne Mastodonte (realidade de Salvador na época. AÚ e O Cabra têm vendido muito mais hoje por lá). Por outro lado em BH, Rio e SP nas COMIC SHOPS vendi o suficiente para ganhar um HQMix com o número 1. Acho que HQ boa vende em qualquer lugar, mas hoje a competição com outras mídias faz que a HQ impressa seja um artigo mais voltado a quem curte de paixão, independentemente se a adquire em banca ou livraria. Exatamente por querer e preferir pagar, como leitor, numa HQ o mesmo preço e muitas vezes mais, do que muitos preferem pagar num CD ou ingresso pra Show, não me incomodei tanto com a mudança de banca pra livraria e, exatamente por respeitar e amar tanto, aceitei e quis fazer o meu material com a melhor qualidade possível, isso mesmo, a custa de um maior lucro ou dividendos. O preço dos meus títulos diante da qualidade gráfica oferecida está muito aquém do sensato! (Risos)

Nessa hora, ser meu próprio editor me poupa da bronca (risos). Pode botar na calculadora. Acontece, como lhe disse, que muitos preferem “colocar debaixo da camisa” a revistinha da banca, mesmo barata, do que pagar mais caro, por um material pra vida toda, ao artista que oferece o sangue e a alma num material que acredita e que espera ser compartilhado por aqueles que gostam, como ele, das HQs! Esse tipo de leitor que sempre quer o barato e que se dane o artista, eu dispenso! Concluindo, mesmo sem nunca ter fumado, adoro o ambiente das tabacarias e se esse é o futuro do meu meio de vida, que seja...
To be continued... 
Gostou? Pois confira a entrevista na íntegra no FARRAZINE # 24 (Lançamento oficial dia 20 de outubro)
E só lembrando aos incautos que o Flavio Luiz vai estar no stand # 4 do FIQ 2011, pois ele tem bom gosto e é bem humorado como a gente!Hehehehehe! Dê uma passadinha no dia 11 de novembro a a partir das 18h por lá para conhecer de pertinho esse fera, vencedor do "HQMIX 2011 de melhor publicação independente", é mole?

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