segunda-feira, 18 de julho de 2011

Geração K-ótica

Yuno Silva - repórter (Tribuna do Norte) -10 de Março


A relação do Rio Grande do Norte com a arte sequencial é mais estreita do que muitos podem imaginar. Desde o início da década de 1970, potiguares começaram a rascunhar estudos e pesquisas sobre as histórias em quadrinhos, iniciativas pioneiras que desembocaram na publicação do primeiro livro sobre o assunto no Brasil e na criação de um grupo formado por profissionais que entendiam e entendem as HQs como recurso importante na formação intelectual de jovens leitores.


imagens K-ÓticaQuadro de O Homem da Ilha do Lixo, que está na versão impressa da série K-ÓticaQuadro de O Homem da Ilha do Lixo, que está na versão impressa da série K-Ótica
Quarenta anos se passaram desde o lançamento de “A Explosão Criativa dos Quadrinhos” (Editora Vozes), do poeta, artista visual e professor Moacy Cirne, e do surgimento do Grupo de Pesquisa e Histórias em Quadrinhos (Grupehq), responsável pela edição de vários títulos, entre eles a revista Maturi. Agora, a bola da vez são as chamadas webcomics, nova modalidade de arte sequencial que utiliza a internet como suporte. Porém, mesmo nesses tempos virtuais, o grande prazer de qualquer quadrinista é ver suas histórias impressas no papel, e é isso que acontece amanhã (11), às 18h30, no Teatro de Cultura Popular Chico Daniel (TCP/FJA), quando a webcomic potiguar K-Ótica estreia na versão tradicional após oito edições digitais publicadas (150 páginas) no portal cultural Revista Catorze. O lançamento dos dois primeiros exemplares impressos da K-Ótica também contará com apresentação dos artistas Louise Branco e Sebástian Fripp, e show do grupo vocal Propagamus. A entrada é gratuita.


Passando o bastão


A materialização das webcomics, que abordam temas diversos como horror histórico, ficção científica, universo fantástico, fábulas modernas, humor e infantil, tiveram o incentivo do professor Luis Elson (integrante do Grupehq) e apoio da Fundação José Augusto. Além das revistas, com tiragem inicial de 350 unidades cada, camisetas e desenhos originais também estarão à venda. Nesta primeira revista impressa, o potiguar inicia a série sobre o “Homem da Ilha de Lixo”, uma visão pós-apocalíptica da humanidade onde um novo ser surge do que sobrou da civilização. Essa figura do universo fantástico parte em busca da origem dos sons e da vida, uma narrativa repleta de referências filosóficas, cosmológicas, biológicas e até religiosas. O visual caprichado e sofisticado das histórias, ganham força com roteiros bem elaborados e criativos.


Adotando o processo de produção coletiva-voluntária, a K-Ótica reúne cerca de 20 colaboradores e cinco editores que administram o conteúdo. “O projeto tem mais de um ano no ar e estamos publicando uma compilação impressa, revista e ampliada, das principais séries que estão on-line”, disse Marcos Guerra, roteirista, quadrinista e um dos editores responsáveis. A parceria com o site cultural começou a se desenhar a partir da publicação da reportagem em quadrinhos “O que vai ser derrubado com o Machadão”, com roteiro de Beto Leite e desenhos de Marcos Guerra, onde a dupla reflete sobre o imbróglio que envolve a demolição do estádio para construção do Arena das Dunas.


Clique aqui e veja a primeira parte da história.


Arte sequencial também na escola


Nos planos da turma da K-Ótica também está a criação de uma escola de arte sequencial em Natal: “O quadrinho pode abranger conceitos de filosofia, psicologia, estéticas poéticas, históricas... é dentro desse contexto que pretendemos criar a escola”, planeja Marcos Guerra. A meta do grupo é firmar parcerias com o Departamento de Artes da UFRN, com os Núcleos de Artes Visuais das Fundações de Cultura, com o IFRN, entre outras instituições, justamente para “tentar suprir uma necessidade, pois a arte sequencial não é contemplada em nenhum curso, nem nível técnico nem superior”.


Marcos Guerra começou a desenhar ainda criança, mas, lembra o artista, “não souberam agregar o desenho como parte de minha formação educacional”. Graduado em Artes Plásticas pela UFRN, onde nem o novo curso de Artes Visuais ainda considera o estudo da arte sequencial, Guerra mora na Zona Norte de Natal e quando era criança ia brincar no mangue do Rio Potengi “em busca de brinquedos e outros objetos perdidos pelos banhistas”.


Numa dessas incursões, encontrou uma revista do norte-americano John Buscema, responsável pelos traços de personagens famosos como Quarteto Fantástico, Thor e Conan, o bárbaro, entre outros. Depois desse encontro, passou a devorar gibis de todos os tipos. Leitor voraz de poesia, e admirador de quadrinistas brasileiros da nova geração como os gêmeos Bá e Moon, Rafael Grampá e Lourenço Mutarelli (autor do romance “Cheiro do Ralo”, adaptado para o cinema em 2007 com Selton Mello no papel principal). “Todo quadrinista iniciante tem Mutarelli como exemplo: quer produzir, publicar e ser lido”, finaliza.


Clique aqui e veja a segunda parte da história.


A fase 2.0 dos quadrinhos potiguares


“A atual produção de arte sequencial encontra-se em um lugar indefinido, que aponta para várias direções. Há um bombardeio de influências e de possibilidades que deixa o futuro das HQs em aberto”, analisa Guerra, de 25 anos. Graduado em Artes Plásticas pela UFRN, o artista acredita que “há, hoje, uma produção muito grande de HQ com o advento da webcomic, e as pessoas estão experimentando como nunca”, disse Marcos Guerra.


Essa nova fase retoma o vigor da produção da arte sequencial vista nos anos 1970 e 80: “Passamos por um período complicado na década de 1990, quando as publicações e as vendas despencaram muito. Na internet, as histórias em quadrinhos ganharam novo fôlego e temos uma nova geração de quadrinistas brasileiros com grande destaque internacional”.


A diferença, de acordo com Guerra, é que agora (com a facilidade de publicar webcomics) os roteiros também estão ganhando espaço. “Por muito tempo, quadrinistas brasileiros consideravam ‘estar no topo’ o fato de estarem colaborando com os grandes estúdios norte-americanos (DC Comics e Marvel). Pode até servir como meta mas, dessa forma, pouco se contribui para desenvolver um perfil, uma linguagem própria da arte sequencial brasileira”, disse o potiguar. “A intenção da K-Ótica é ter nossas histórias traduzidas”, almeja.


Saiba mais...


O termo arte sequencial foi criado pelo quadrinista Will Eisner, com o objetivo de definir “o arranjo de fotos ou imagens e palavras para narrar uma história . A charge (cartum) é um formato de arte sequencial animada. Embora composto de uma única imagem, a charge constrói uma narrativa que a inclui entre os formatos de quadrinhos. Tira é uma sequência curta de imagens comumente publicada em jornais.


Revista em quadrinhos, ou comic book (EUA), é o formato usado para a publicação de histórias do gênero, desde séries românticas aos populares super-heróis. Novela gráfica é o termo utilizado para formato de revista em quadrinhos que trazem enredos longos e complexos.


Webcomic, também conhecida como “digital comics”, são histórias em quadrinhos publicadas na internet.

Um comentário:

Beto Potyguara disse...

Lamentamos mais uma vez a posição dúbia do sr. Marcos Guerra, uma vez que num espaço que lhe foi dado, sequer valeu-se de notificar a existência da fundação da ABAS em solo potiguar como um dado relevante. ENTIDADE a qual é um dos gestores (?) e mais, a proposta de utilização de arte sequencial com outras mídias e como recurso didático é uma bandeira e luta abraçadas e divulgadas por nós há bastante tempo, antes mesmo de sua inclusão em nossas fileiras. O próprio espaço conseguido dentro do DEART foi fruto da participação e de ofícios desta entidade. Lamentavelmente não é a priemira vez que este sr. vem a nos decepionar. Em breve também estaremos tendo um espaço na Tribuna do Norte e a possibilidade de ampliar a verdade de forma mais nítida será feita, com todo profissionalismo, comprometimento e respeito.

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